quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Os Donos de Nada


   Muitas vezes, encontro um enorme adesivo que diz “Propriedade do Senhor Jesus”. Geralmente, está em um carrão bonito. Tipo de coisa muito chique. Mas nunca vi num fusquinha 64. O que me leva à seguinte pergunta. O fusca também não pertence ao Senhor Jesus? Que pertence, pertence. Afinal. “Assim diz o Senhor: O céu é o meu trono, e a terra o escabelo dos meus pés”. (Isaías 66:1). Deus fez tudo. É o dono de tudo. E o fusca está incluído no pacote. 

   Louvar a Deus é um reconhecimento da sua majestade. O cristão reconhece a glória do Altíssimo e louva naturalmente suas obras. Não gosto da mensagem desse adesivo por várias razões. Uma delas é que um carro do ano, por mais valioso que seja, não passa de uma ninharia perante as realizações do Senhor. Eu colocaria “Propriedade do Senhor Jesus” nas galáxias. Nos milhões de estrelas que povoam o universo. Na intricada estrutura do DNA. Mas num simples carro?!... Sei não. É até uma blasfêmia. Fazer pouco de quem é o Senhor de tudo.

   Outra razão, para meu desagrado, é que ao ler o tal adesivo, parece que o louvor é dirigido para a criatura e não para o Criador. Nos levando a entender outra coisa. A verdadeira mensagem não seria aquela que está estampada no adesivo. Mas se encontra subentendida. Ocultada por dissimulação da vaidade e suas astúcias. Louvores espalhafatosos ao Criador em luxuosos bens materiais sugerem que só foram obtidos porque a fé de quem os possui é maior que a de seu semelhante. E aí reside o pecado da soberba. A pedra de tropeço em que caem os que se acham superiores na fé. Ostentando serem mais justos que seus irmãos. Porém, não foi assim que Jesus pregou. Mas a humildade no lugar da vaidade. “Quando, pois, deres esmola, não faças tocar trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem glorificados pelos homens”. (Mateus 6:2)

   Mais um outro motivo. E esse amplamente repudiado. Colidindo frontalmente com a tal Teologia da Prosperidade. A grande abominação que está lotando as igrejas de pessoas gananciosas. Como também transformando congregações em supermercados da fé. Desde quando o Altíssimo foi reduzido a um simplório deus interesseiro? Jamais Ele compraria a fé de alguém com uma ferrari, uma mansão ou seja lá o que for. A legítima fé no Santo de Israel é seu temor verdadeiro.

   Pensar que a fé exige prosperidade incondicional não passa de uma cilada do demônio. Muito longe dos propósitos do Criador. “Então respondeu Satanás ao Senhor, e disse: Porventura Jó teme a Deus debalde? Não o tens protegido de todo lado a ele, a sua casa e a tudo quanto tem? Tens abençoado a obra de suas mãos, e os seus bens se multiplicam na terra. Mas estende agora a tua mão, e toca-lhe em tudo quanto tem, e ele blasfemará de ti na tua face!” (Jó 1:9-1) Entretanto, contrariando a satanás, Jó se manteve íntegro. Seu coração tinha colocado o Deus Vivo acima das riquezas do mundo.

   Muitos estão alegando que condenar a Teologia da Prosperidade é se conformar com a pobreza. Optar por ser um miserável e achar bonito. Uma enorme mentira ou ignorância. Essa teologia passou a ser contestada, não por desejar que todo cristão tenha uma vida decente, o que lhe é um direito básico. Mas por claramente valorizar as riquezas ao invés de Deus. “E o que foi semeado entre os espinhos, este é o que ouve a palavra; mas os cuidados deste mundo e a sedução das riquezas sufocam a palavra, e ela fica infrutífera.” (Mateus 6:22)

   Também há uma questão importante a considerar. Aquilo que é de Deus pertence a todos nós. O Criador não reservou seus pequeninos bens, como este planeta inteiro, apenas para alguns. Qualquer ser humano mora nele. E sem pagar aluguel.  Por isso, se alguém coloca “Propriedade de Jesus” em alguma coisa, ela é de qualquer um. Colocou na sua casa? Então, qualquer desabrigado tem o direito de morar nela. Infelizmente, na prática isso não acontece. Sendo assim, esse é um elogio a Deus só em palavras. Mas negado em ações. Ealguém que se comporta assim pode ser chamado de hipócrita.

   Jesus foi bastante cuidadoso em nos alertar contra as armadinhas deste mundo. Uma delas fez um jovem, diante da face de Cristo, recusar os caminhos da salvação. Esse moço era dono de muitos bens. O Senhor pediu que os abandonasse, para segui-Lo. Mas ele recusou. Naquele momento, não tinha o adesivo “Propriedade do Senhor Jesus” no único lugar em que precisaria ter colocado. Em seu coração. Só assim, compreenderia que não somos dono de nada. Mas Deus é o dono de tudo.


A Paz do Senhor
Rutinaldo Miranda Bastista Júnior
Foto: Guilherme Jófili